Estrangeiro na seleção: sonho para Simon Kuper
Quem deve ser o novo técnico da seleção brasileira? Luiz Felipe Scolari, Muricy Ramalho, Mano Menezes ou Leonardo? Mesmo com tantos nomes no páreo, se a escolha dependesse do jornalista Simon Kuper e do economista Stefan Szimanski, o novo comandante do Brasil rumo à Copa de 2014 seria um estangeiro. Mais precisamente um europeu ocidental.
A sugestão não foi feita depois da eliminação do time de Dunga na África do Sul. Ela está nas páginas do livro ‘Soccernomics - Por que a Inglaterra perde, a Alemanha e o Brasil ganham, e os Estados Unidos, o Japão, a Austrália, a Turquia - e até mesmo o Iraque - podem se tornar reis do esporte mais popular do mundo’, lançado pela editora Tinta Negra. As respostas para o sub-título extenso como um samba enredo vêm através de informações e estatísticas que envolvem a população e o PIB do país, aspectos sociológicos e experiência internacional de cada seleção.
Inspirado no clássico “Freakonomics”, o livro disseca outros aspectos do futebol. Analisa como os clubes contratam mal, prevê que grandes centros europeus como Paris, Londres e Moscou começarão a ganhar a Liga dos Campeões e trata da relação entre o técnico Guss Hiddink e Romário no PSV como exemplo de adaptação de jogadores brasileiro na Europa. Também destaca o embate entre o Campeonato Inglês e a NFL para conquistar o mundo, revela que o número de suicídios diminuem durante as Copas do Mundo e prova que sediar uma grande competição não dá lucro, mas torna a população mais feliz.
Às vésperas da final do Mundial, o GLOBOESPORTE.COM entrevistou por e-mail um dos autores do livro, o holandês Simon Kuper. Colunista esportivo do Financial Times, ele acompanha a competição na África do Sul.
Antes de mais nada, quem vai ganhar a final? Holanda ou Espanha?
Eu cresci na Holanda e torço pela Holanda, então conheço o time. Por isso, a Espanha vai vencer, infelizmente.
O livro diz que a seleção brasileira vence mais do que deveria, mas a última frase é pouco animadora: “cuidado, Brasil”. Com quem o time pentacampeão deve tomar cuidado?
O Brasil deve se preocupar com os países que estão aprendendo rapidamente as táticas, a preparação física e a disciplina do futebol europeu. Os Estados Unidos e o Japão ficaram entre os 16 melhores times na África do Sul. A Austrália também está se desenvolvendo rapidamente. Os americanos quase venceram o Brasil na final da Copa das Confederações, no último ano. Para mim é a seleção mais promissora porque o país tem 300 milhões de habitantes, milhões de jogadores de futebol e muito dinheiro para desenvolver o esporte. Coréia do Sul e até a Nova Zelândia, embora creia que nunca será campeã mundial, também aparecem como países emergentes. A longo prazo é bom ficar de olho na China e na Índia. Embora não se importassem muito com futebol, o interesse dos indianos vem crescendo muito rapidamente.
O declínio de França e Itália significa que seleções tradicionais devem cair para que outras equipes se desenvolvam?
Sim. Se novos países como Estados Unidos crescem, significa que outros, como França, Itália ou Brasil vão enfrentar mais concorrência. Eles precisam continuar a aprender e a melhorar para permanecerem no topo. A Alemanha tem feito isso: nos últimos 10 anos eles têm aprendido muito com o futebol espanhol e holandês. Itália e Brasil pararam de aprender e pagaram o preço.
Vocês sugerem que a seleção deveria ser treinada por um europeu, que esta seria uma combinação perfeita. Não acha que isto soa como heresia, ainda mais porque a próxima Copa será aqui?
Entendo que isso deva ser uma heresia no Brasil. A Inglaterra, que como o Brasil estava ligeiramente atrás nas táticas do futebol, também resistiu à ideia de ter um treinador estrangeiro, até finamente contratar um em 2000. Até os Estados Unidos preferem não ter um técnico de fora. Mas o Brasil deveria ter um. Vocês têm normalmente os melhores jogadores. Mas em tática estão atrás dos europeus. A seleção brasileira com um treinador do ocidente europeu seria uma combinação dos sonhos. O que vocês mais querem em 2014: ganhar a Copa do Mundo ou ter um técnico brasileiro?
Um estudo feito por vocês publicado na revista ‘Wired’ antes da Copa previa Brasil e Sérvia na final, com a seleção brasileira campeã. Mas, como está no livro, é ótimo que não se possa prever o vencedor de uma Copa.
Absolutamente. Como dizemos no livro, é impossível prever com certeza o resultado de um jogo de futebol. A maioria dos jogos em Copas é decidida por um gol. Significa que um erro do juiz, uma bola na trave ou um chute desviado no zagueiro podem decidir um jogo. O estudo que usamos no 'Soccernomics' dão mais resultados em uma liga com 38 jogos. Então, um erro ou uma bola na trave não fazem diferença. Em uma liga, o melhor time geralmente ganha. Isso não é verdade em uma Copa do Mundo. Mas nós tivemos muitos acertos no estudo para a ‘Wired’. Acertamos que a Alemanha venceria a Inglaterra nas oitavas de final.
E mais uma vez, a Inglaterra foi eliminada e pode dar a desculpa de um fator externo. Que destino…
Bem, a Inglaterra perdeu porque a Alemanha é melhor. A Alemanha tem 30 milhões a mais de habitantes e no futebol são melhores taticamente. Mas a verdade é que a imprensa britânica tem falado por duas semanas sobre o gol do Lampard que não entrou. Uma coisa que estamos absolutamente certos no ‘Soccernomics’ é o ritual das eliminações da Inglaterra. Número um: o English Team entra em uma Copa do Mundo achando que sempre vai vencer. Segundo: eles são geralmente eliminados por um inimigo de guerra, Alemanha ou Argentina. Terceiro: eles sofrem com um azar que acham que só acontece com eles, como foi o caso do gol não dado. Quarto: eles elegem um culpado, neste caso o bandeirinha uruguaio e o técnico Fabio Capello. E quinto: eles partem para a Copa seguinte achando que vão ganhar. No Reino Unido o título do livro é “Por que a Inglaterra perde”. Quando foi eliminada, as vendas dispararam.
Com exceção de Gana, o futebol africano falhou na Copa. Como explicar que o continente ganhe torneios das categories de base e Jogos Olímpicos, e quando chegam em uma Copa do Mundo, falham? Os ‘gatos’ continuam?
Sim. Eles geralmente disputam as competições de base com jogadores acima da idade. Então, eles jogam com atletas de 26 anos em competições sub-20. Assim, eles ganham. Muitas pessoas na África não têm certidão de nascimento. Quando se tornam bons jogadores, eles escolhem uma idade por razão econômica. Então, se você tem 23 anos, diz que tem 17 porque é mais fácil ser contratado por um clube europeu. Na Copa do Mundo, as seleções africanas têm um desempenho ruim por causa da pobreza dos países. Mostramos no livro que o Brasil é o único país pobre que regularmente tem um bom desempenho internacional nos esportes.
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