Estádio da Fonte Nova está perto de ser demolido
Os homens em campo não são especialistas na criação, mas craques na destruição. Os operários responsáveis pela demolição do estádio da Fonte Nova trabalham rápido e em menos de um mês transformaram todo o anel inferior em um monte de escombros. Em agosto, as arquibancadas superiores vão desmoronar em segundos, após uma implosão que vai atrair a atenção de toda Salvador. O gigante erguido em 1951 e ampliado em 1971 estava interditado desde o dia 25 de novembro de 2007, quando parte da arquibancada cedeu durante o jogo Bahia 0 x 0 Vila Nova, matando sete torcedores, em uma das maiores tragédias da história do futebol brasileiro.
O andamento dessa primeira etapa do processo está dentro do planejamento feito pela Secretaria Extraordinária para Assuntos da Copa do Mundo Fifa Brasil 2014 (Secopa), pasta criada pelo governo do estado com o objetivo de preparar a Bahia para o Mundial. Depois da implosão, três meses serão necessários para realizar toda a limpeza da área. A maior parte do entulho vai ser reciclada e utilizada na própria obra de construção da nova arena, etapa que deve ser iniciada em dezembro deste ano. A meta é concluir o estádio em dezembro de 2012, para que tenha condições de ser uma das sedes da Copa das Confederações, em 2013.
De acordo com o projeto, a Fonte Nova vai ter capacidade para 50 mil torcedores em três níveis de arquibancadas com assentos cobertos, 45 mil cadeiras regulares, 93 camarotes, restaurante panorâmico com vista para o estádio e para o Dique do Tororó e 1.971 vagas de estacionamento. Sua estrutura abrigará também sala de imprensa, 31 quiosques, 11 elevadores, 58 sanitários, o Museu do Futebol e salas para convenções que funcionarão independentemente dos jogos.
- A Fonte Nova não vai ter só futebol. Será um espaço multiuso para grandes eventos, shows musicais, espetáculos - garantiu Marcos Lessa, diretor de negócios e marketing da Fonte Nova Negócios e Participações.
Repasse de custos é contestado
O processo licitatório foi rápido, e as obras seguem no ritmo previsto. Mas há obstáculos. O maior problema a ser resolvido é um embate relacionado aos custos. Os gastos com a
demolição e construção da nova arena foram estimados em R$ 591 milhões. O governo
pediu R$ 400 milhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dando como garantia o Fundo de Participação do Estado (FPE). Os ministérios públicos federal (MPF) e estadual (MPE) apontaram irregularidades no projeto. E em junho recomendaram que o BNDES não concedesse o financiamento.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) também identificou ilegalidades no contrato. A principal no fato de que, em um modelo de Parceria Público-Privada, o governo não pode fazer empréstimo junto ao BNDES e repassá-lo para o consórcio responsável pela obra. Em nota oficial, o governo rebateu o MP, especialmente no que diz respeito aos cálculos do lucro do consórcio Fonte Nova Participações.
- Não corresponde à realidade, pois se apoia em premissas que desconsideram o custo de amortização (parcela) dos financiamentos captados pelo consórcio vendedor - diz a nota oficial.
A liminar solicitada pelo Ministério Público foi indeferida pela Justiça Federal.
Enquanto isso, o trabalho de demolição segue no mesmo ritmo célere, mas, como todo bom pedreiro costuma dizer, destruir é sempre mais simples do que construir, sobretudo se o orçamento aperta. É o grande desafio para os próximos dois anos.
Número de leitos não preocupa. Qualificação de profissionais, sim
Durante a campanha de Salvador antes da escolha das cidades que iriam sediar jogos da Copa do Mundo de 2014, um dos pontos decisivos e favoráveis à capital baiana foi a experiência adquirida nos últimos anos na organização de grandes eventos. No período do carnaval, a cidade recebe, em média, 500 mil visitantes do Brasil e do exterior, que lotam os circuitos principais da festa na orla marítima e no centro histórico, movimentam a economia e exigem que a cidade esteja estruturada para receber e atender bem tantos turistas.
A maior cidade do Nordeste tem 400 hotéis e outros 15 em construção. Em Salvador e região metropolitana, há empreendimentos de todos os tipos, das pequenas e médias pousadas até os hotéis de alto luxo. O litoral norte da Bahia tem a maior quantidade de resorts do país. A rede hoteleira conta com 50 mil leitos, número considerado suficiente para atender às exigências da Fifa. E a meta é chegar a 65 mil até o Mundial. Para isso, o governo conta com empréstimos junto ao BNDES e investimentos privados que chegam a R$ 14 milhões.
Um dos objetivos é investir em empreendimentos que estejam em sintonia com os princípios da sustentabilidade e preocupação ecológica. Para Sílvio Pessoa, presidente do Sindicato dos Donos de Hotéis da Bahia, os maiores desafios do setor até o mundial de 2014 são a modernização dos hotéis e, principalmente, a capacitação dos profissionais da área.
- Uma grande parte dos hotéis da cidade tem mais de 50 anos. Precisam de novos
equipamentos e reformas na parte interna. Com relação aos profissionais, estamos mal.
É preciso qualificar.
A prova disso é que os grandes empreendimentos têm optado pela contratação de funcionários de outros estados por entender que os profissionais da Bahia ainda não estão aptos a trabalhar com eficiência nas áreas de turismo e hotelaria. Mas o governo está investindo R$ 17 milhões em cursos.
Representantes dos setores público e privado concordam que os incrementos do setor dependem muito de avanços da cidade, sobretudo no que se refere à mobilidade urbana.
- Não precisamos de paliativos e sim de soluções em longo prazo - diz Sílvio Pessoa.
Salvador ainda não tem metrô em funcionamento. As obras se arrastam há mais de dez anos e a inauguração da primeira das três etapas está atrasada em quase sete anos. A prefeitura pretende implementar um sistema de corredores exclusivos para ônibus nas principais avenidas da cidade, com uma frota de 350 veículos. Também é necessário ampliar os portos da cidade e região metropolitana, já que muitos turistas optam por visitar a capital baiana em cruzeiros marítimos, comuns em uma cidade litorânea.
Autoridades consideram insufiente investimento previsto em aeroporto
O corredor com mais de 800 metros de extensão chama atenção de quem chega e de quem sai da capital baiana. É uma pista que se destaca pela beleza e originalidade. O túnel verde formado por bambus pendentes que ficam dos dois lados da via é uma das características marcantes do Aeroporto Internacional Deputado Luis Eduardo Magalhães, em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador. Mas não disfarçam os problemas do lugar que atende a uma média diária de 19 mil passageiros, realiza cerca de 250 pousos e decolagens, além de gerar 16 mil empregos diretos e indiretos.
O Aeroporto da capital baiana atende a aproximadamente 30% da movimentação de passageiros da região Nordeste e, assim como os principais aeroportos do país, vai precisar passar por mudanças antes da Copa de 2014. A Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) promete investir R$ 45,1 milhões na readequação do terminal de passageiros e na construção de uma nova torre de controle. Para o secretário extraordinário da Copa na Bahia, Ney Campelo, o investimento é insuficiente.
- Acho que seria necessário uma segunda pista e, pelo menos mais sete fingers (passarelas que ligam o avião direto ao aeroporto) - disse o secretário, que também considera que o espaço onde se localizam as esteiras de bagagens e a área de duty free estão obsoletas.
O secretário de Turismo da Bahia, Antônio Carlos Tramm, concorda e acrescenta que é urgente, também, aumentar o número de voos que partem de Salvador e que chegam à cidade.
- O aeroporto precisa crescer, e a malha aérea tem de ser ampliada o mais rápido possível.
O número de voos internacionais duplicou em quatro anos. Eram 14 e agora já são 30, mas ainda é pouco para uma cidade que tem a terceira maior população do país e é uma das cinco mais visitadas por turistas estrangeiros.
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